A próxima conferência climática ou conferência das partes das Nações Unidas- ONU, a COP será sediada no Egito a partir da próxima semana, 6 de novembro, com desafios urgentes. Em síntese, o objetivo principal da COP 27, que acontecerá na cidade de Sharm el-Sheikh, de 06 a 18 de novembro, é tratar do aquecimento global e, portanto, balizar esse aquecimento em até 1,5˚ C. Além disso, há outras variáveis em discussão também para próxima conferência climática da ONU, que é definitivamente colocar em prática o cumprimento das metas estabelecidas no Acordo de Paris, que aconteceu lá em 2015. Quanto aos desafios, vale a comparação de que os níveis pré-industriais do mundo, relacionados ao aquecimento global, já está 1,2˚ C mais quente, portanto, é necessária toda atenção da humanidade, poder governamental e mundo privado.
Um dos pontos de discussão ligado a essa questão e que é muito latente, acentuado e grande, está relacionado à mitigação, ou seja, como contornar o comportamento humano, produtivo, e de crescimento e de desenvolvimento relacionados aos impactos ambientais. Além disso, na conferência haverá outras tantas importantes questões a serem debatidas relacionadas, por exemplo, com as estratégicas de promover a adaptação, a oportunidade de implementação de fundos e recursos financeiros e, claro, a importante colaboração entre os povos e nações, assim, como nas edições anteriores que participamos. A adaptação é destacada aqui porque os participantes (países/chefes de estado, empresas, sociedade civil organizada) precisam colocar em prática seus planos para proteger as comunidades que, invariavelmente, serão afetadas pelo aquecimento global – parte do estrago, como se sabe, já está feito com gases de efeito estufa. Assim, é preciso imediatamente pensar nos mais desfavorecidos e nas populações vulneráveis com ações de adaptação ao contexto climático adverso.
O financiamento, que também quero destacar aqui, é outro ponto chave não só desta COP que se avizinha, mas de todas debatidas até hoje. O Brasil, a ONU e todos os países em processo de desenvolvimento consideram urgente convencer os países mais ricos a disponibilizar recursos significativos e que realmente possam promover a transformação e a guinada para um desenvolvimento sustentável e, assim, o caminho para uma economia mais verde, limpa e socialmente justa, ser, de fato, definitivo. Esse fundo deve possuir cifras ($) vultuosas, esperando-se, ser utilizado pelos países e nações mais necessitadas no enfrentamento as mudanças climáticas, seja por adaptação ou mitigação.
No que tange à colaboração, temos a visão da conferência como assertiva de que a mitigação das mudanças climáticas depende da participação inclusiva, colaborativa e ativa de todos os stakeholders. Sabe-se que sem a participação dos líderes governamentais, do setor produtivo e da sociedade civil organizada imbuídos de um sentimento comum de olhar para o futuro, teremos um risco sério com possíveis problemas ambientais não contornáveis ao longo dos próximos anos.
Quais são as consequências do aquecimento global?
É sempre bom lembrar que o marco estabelecido pelos pesquisadores do Painel IPPC é de até 2˚ C. Portanto, caso a temperatura planetária suba ainda mais, poderemos ter escassez de chuvas em alguns pontos e chuvas torrenciais em outros, secas e geadas mais severas, temperaturas médias mais altas, perdas em plantios e criação de animais, mais espécies correriam risco de extinção e a consequente perda de biodiversidade, além do desequilíbrio ecológico , ou seja, poderão ser agravados, bem como o descongelamento de placas polares e, assim, ocasionar elevação do nível do mar em faixas litorâneas, entre outras séries de apuros.
Dentre essas questões físicas, é preciso considerar que estudos do painel intergovernamental sobre mudanças climáticas relatam que quase um terço da população pode ficar regularmente exposta ao calor severo, o que se traduziria em problemas de saúde e, inevitavelmente, em maior número de mortes relacionadas ao clima. Então, se mantido o teto de 1,5˚ C tudo fica resolvido? Infelizmente, não! Por outro lado, o panorama seria menos caótico. Com um cenário mais favorável, teríamos menos problemas com escassez de alimentos e água, além, é claro da preservação da biodiversidade. Nesse cenário, a humanidade enfrentaria menos problemas climáticos com contornáveis alterações.
Dado o cenário atenuante, o que temos certeza é que os segundos passam e a janela de oportunidade de contornarmos os problemas climáticos em até 1,5˚ C pode estar se fechando. As discussões levantadas pelos EUA sobre o Protocolo de Paris na era Trump, que substituiu o Protocolo de Kyoto atrasaram em muito as negociações diplomáticas mundiais.
EUA, China e vários países possuem metas de equacionar suas emissões de gases poluentes em até 2050 e 2030, respectivamente. Contudo, a China possui meta em atingir o pico das emissões até 2030 e, após isso, só aí iniciar a etapa de zerá-las até 2060, o que nos parece muito controverso.
Quais são as boas notícias?
Há sim boas notícias para o meio ambiente, embora ainda insuficientes para dar fim à cilada em que a humanidade se encontra. As energias renováveis e limpas, como eólica, hidrogênio verde, solar e até as hidrelétricas são exemplos de soluções para continuarmos a desenvolver o país, dessa forma avançarmos e mitigarmos a poluição dos combustíveis fósseis. Cabe mencionar ainda que até o ano de 2019 só 30% da economia mundial tinha estabelecido metas para atingir o carbono zero. Atualmente, esse percentual subiu para 70% e o mundo corporativo e financeiro tende a estimular os governos para esse caminho menos poluente.
O fato é que a adaptação dos países e economias com o estímulo a inovação, empreendedorismo, tecnologia, engenharia deverão mover os países que se atentarem rapidamente para este novo modelo de desenvolvimento mundial muito pautado em Sustentabilidade e ESG (Environmental Social and Governance). A exemplo do Reino Unido em que sua economia cresceu 78% nos últimos 30 anos ao passo em que conseguiu também reduzir suas emissões de CO2 em 44%. Para termos uma breve dimensão desse feito e sua realização, em 2012, 40% da eletricidade do país era obtida por meio da queima de carvão, ou seja, combustível fóssil e essa cifra já caiu para 2%. O objetivo do país é reduzir todas as suas emissões de GEEs em até 78% até 2035. A nossa torcida é que todos esses compromissos prosperem e não fiquem em promessas.
E a importância do Brasil e de Mato Grosso na COP27?
O Brasil continua como protagonista em mais uma COP e tende a aumentar sua participação e decisão nas discussões climáticas, ambientais e financeiras, assim como Mato Grosso, que possui destaque em produção e conservação, sempre gerindo de forma inteligente esse tradeoff (relação de compromisso) que é um problema mundial. Entre as ações que concebem esse protagonismo brasileiro está a projeção de geração de aproximadamente 1 bilhão de créditos de carbono de toneladas de CO2, com receitas da ordem de US$ 100 bilhões até 2030. Neste mesmo caminho nosso estado irá auxiliar e liderar as negociações junto as autoridades nacionais e internacionais em negociações de nosso interesse.
Na última edição, o governo brasileiro assumiu alguns compromissos como: zerar o desmatamento ilegal até 2028, reduzir 50% das emissões de gases do efeito estufa até 2030; neutralizar as emissões de carbono até 2050; e cortar as emissões de metano. Neste mesmo sentido, Mato Grosso tem avançado muito, mas ainda é preciso extirpar o desmatamento ilegal dos nossos limites geográficos e superar os graves danos ambientas dos incêndios florestais de 2019 e 2020.
A agenda deve ser cada vez mais técnica e propositiva do que apenas política e diplomática, pois é preciso que todos os países passem a entregar resultados concretos em soluções climáticas. Nosso estado sempre figurou como liderança na Amazônia Legal e deve continuar ditando métodos e performances, bem como angariando novos projetos e apoios financeiros internacionais para que possamos produzir, conservar e incluir.
Não há mais tempo a perder, façamos bom uso dos nossos recursos naturais, do nosso capital produtivo e que nos sentemos à mesa não mais com pires na mão, mas com propostas e caminhos bem-postos para prosperar em qualidade de vida, economia e meio ambiente.
A tônica do mercado de carbono, pagamento por serviços ambientais, energias renováveis, consolidação de territórios indígenas e unidades de conservação, e demais áreas de trabalho deixarão de estar apenas em pesquisas e estudos e devem definitivamente irem para prática, para o mercado e para as agendas governamentais.
Portanto, o Brasil tem tudo para continuar avançando em sustentabilidade e Mato Grosso será a locomotiva que auxiliará nosso país a produzir, conservar e incluir, caminho sem volta e sem retrocesso para o desenvolvimento sustentável!
André Luís Torres Baby
Eng. Florestal, ME em Sustentabilidade e Conselheiro do Crea-MT